quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Natureza sobre outros olhos

Está certo que esse blog é sobre tecnologias, mas acabei de ler um trecho de um livro que achei bonito. É uma crítica e um relato ao mesmo tempo, sobre a natureza e a relação do narrador com ela.É bem pessoal e acho que é isso que faz ser tão legal. Ele fala da natureza de uma maneira muito diferente, como se ela fosse um ser independente e que tivesse tantas vontades e sentimentos quanto um ser humano. Ele também mostra, subjetivamente, que ela não é aquela coisa bonitinha que só nos faz bem e que nos agüenta sem fazer nada, mostra um lado mais sombrio na natureza. Bem, leiam e, se quiserem, digam o que acharam. Até!



“A natureza ali era algo selvagem e terrível, embora belo. Eu olhava maravilhado para o solo por onde passava, para ver o que os Poderes tinham feito ali, a forma, o feitio e o material de sua obra. Essa era a Terra da qual tínhamos ouvido falar, feita do Caos e da Noite Antiga. Ali não havia jardim humano, mas o globo indomado. Não era prado, nem pastagem, nem campina, nem floresta, nem planície, nem terra fértil, nem deserto. Era a superfície fresca e natural do planeta Terra, como foi feita para sempre – para ser moradia do homem, dizemos -, assim a Natureza a fez e o homem pode usá-la, se conseguir. O homem não deve ser associado a ela. Era a Matéria, vasta, terrível – não sua Mãe Terra de que ouvimos falar, não para que ele a palmilhe, ou para ser enterrado nela – não, seria familiar demais até deixar seus ossos jazer ali -, o lar, isso, da Necessidade e do Destino. Sentia-se claramente a presença de uma força não inclinada a ser boa para o homem. Era um lugar de paganismo e ritos supersticiosos, para ser habitado por homens mais próximos das rochas e dos animais selvagens do que nós.[...] O que é ser admitido num museu, ver uma miríade de coisas peculiares, comparado com ser apresentado à superfície de alguma estrela, a alguma matéria dura em sua casa! Eu admiro meu corpo, essa matéria a qual estou preso tornou-se tão estranha para mim. Não temo espíritos, fantasmas, dos quais sou um – isso meu corpo pode -, mas temo corpos, tenho medo de encontrá-los. O que é esse Titã que me possui? Conversa de mistérios! Pense em nossa vida na natureza – diariamente apresentados à matéria, entrando em contato com ela – rochas, árvores, vento em nossas faces! A terra sólida! O mundo verdadeiro! O senso comum! Contato! Contato! Quem somos nós? Onde estamos?”




Henry David Thoreau

“Ktaadn”




obs:sim, o nome do livro é um tanto estranho.



Por Taís F.

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